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Arte Proibida Para Crianças

  • Eduardo F. Filho
  • 17 de nov. de 2017
  • 4 min de leitura

Em meados de setembro de 2017 um vídeo tomou conta das redes sociais, tabloides e jornais de todo o Brasil. Nele podia se observar uma menina de 5 anos de idade se aproximando e tocando no corpo de um homem nu incentivada pela mãe. Não demorou muito para grupos políticos, igrejas, artistas se posicionarem contra ou a favor das imagens.

Com o passar dos dias o assunto foi tomando proporções astronômicas. O artista, Wagner Schwartz, foi acusado de pedofilia, a mãe da garotinha foi ameaçada de perder a guarda da criança. Ambos não podiam sair na rua sem serem ameaçados de morte, apedrejamento entre outros extremos de abusos. A obra de arte em questão era a exposição La Bête onde o artista fica deitado nu em um tatame e o público pode mexer em seus braços, pernas e no restante do corpo para alterar sua posição, em referência a obra “Bichos” de Lygia Clark.

A exposição já ficou em cartaz em diversos museus por todo o mundo, onde houve a presença de crianças acompanhadas de seus responsáveis, e assim como no museu do MAM em São Paulo, a sala era sinalizada dizendo que a partir daquele ponto a arte continha nudismo.

A discussão foi parar em salas de aulas, lares familiares, conversas de boteco, mas o mais importante, os pais queriam saber como agir e reagir, o que falar com seus filhos? Podiam ou não levar seus filhos a exposições de arte que continha nudismo? Isso afetará no desenvolvimento deles futuramente?

Segundo o professor, doutor e diretor do Teatro da Universidade de São Paulo, Ferdinando Crepalde Martins, os pais deveriam levar seus filhos, contanto que haja antes uma conversa apropriada em relação a idade de cada um. “Prepararia meu/minha filho/a antes de entrar em contato com a obra. Estaria, dessa forma, educando a criança para ter respeito pelo corpo do outro”.

Ferdinando ainda fala sobre a importância da educação na sexualidade da criança: “Acredito que se educarmos as crianças para serem críticas, incentivando-as a pensar, refletir, estudar, essa criança terá, no futuro, condições de viver sua sexualidade de uma maneira saudável.”

Para algumas mães que aceitaram falar com a reportagem sobre o assunto foi um pouco diferente. Todas acreditam que a mãe da criança do MAM, a também atriz e artista Elisabete Finger, não merece punição, pois para ela aquele tipo de ensinamento é normal dentro do âmbito familiar dela e nenhuma das mães entrevistadas levariam seus filhos de idade entre 04 e 12 anos para uma exposição com nudismo.

“Não levaria meus filhos para ver nudismo, pois acredito que existe o momento certo das curiosidades com o corpo e na medida que elas forem surgindo eu irei respondendo. Não acho que influenciará na sexualidade, mas pode despertar curiosidades que a criança não teria naquele momento” disse Élida Juliana Silva Holanda, mãe de dois meninos de 7 e 1 ano.

A bancária, Jully Kelly de Souza, mãe de um menino de 3 anos, se preocupa com o futuro das crianças brasileiras e deixa uma questão para outros pais que tenham filhos na mesma faixa etária que o filho dela: “Será que a mesma criança teria discernimento se um homem dias depois da exposição chegasse até ela nu e pedisse que o tocasse? Será que na cabecinha dela ela saberia dividir se isso é arte ou abuso?” para ela, assim como certos filmes e peças teatrais, exposições também deveriam ter classificação indicativa.

Pensando nisso, o MASP, Museu de Arte de São Paulo, decidiu que menores de idade mesmo acompanhado de seus pais não poderiam entrar na exposição “Historias da Sexualidade” que foi aberto semanas depois do ocorrido no MAM e que reúne um acervo com mais de 300 obras de artistas como Pablo Picasso, Paul Gauguin, Suzanne Valadon e Victor Meirelles. A restrição etária deixa de fora mais de 50 milhões de crianças e jovens brasileiros menores de 18 anos de fora da arte.

Apesar disso Juliana Portas, assistente técnica administrativa de um hospital, mãe de três filhos de 12, 6 e 4 anos de idade, também é a favor da classificação etária: “Acredito ser ideal a arte ter classificação etária, assim evita uma situação como esta. A sexualidade da criança pode ser influenciada a partir do momento em que a banalização do corpo e do sexo faz parte da sua vida”.

A professora de história da arte e educação artística, Andréa Araújo dos Santos, acredita que o MASP restringiu seu público por conta do MAM, com receio que ocorresse manifestações contrarias ao museu. “Eu fico bastante triste com essas milhares de crianças que não poderão ver e presenciar a história da sexualidade e ver grandes ícones da história. Não acho certo essa classificação da arte, mas por conta dessa falta de cultura que as pessoas têm e por conta da repercussão do MAM, o MASP foi meio que obrigado a fazer isso”.

Assim como o MAM e o MASP, o “Queermuseu” também foi proibido de ser aberto ao público no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. Segundo as autoridades locais, suas obras de artes são desrespeitosas e incentivam a pedofilia, zoofilia e são contra os bons costumes.

O fato é que o tema da sexualidade ainda é considerado um tabu em nossa sociedade – em pleno século 21 – e continuará sofrendo censuras e proibições se não sentarmos e conversarmos como civilizados sobre o assunto.


 
 
 

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